"Brianne"
Capítulo 39 - Desabar
Horas depois, estava sentada num chão húmido, encostada a uma árvore, algures na floresta que rodeava a casa. Provavelmente não saberia voltar. Mas não estava realmente preocupada com esse pormenor. Voltar, era a última coisa que eu queria fazer naquele momento.
Os objectivos da minha viagem Forks não era turísticos, sociais e muito menos amorosos – embora muito provável e vergonhosamente eu precisasse de uma incursão em todos estes campos.
Mas uma impressão natural?!?! Como podia eu lidar com esse facto? A verdade era, que poderia muito bem evitar Seth nos próximos – e contados – dias.
Afinal dali a 4 dias estaria em casa, e nada daquilo faria mais sentido.
Nem Seth, nem os Cullen, nem Ellen...
Uma lágrima começou a formar-se no meu olho.
Funguei.
Talvez o meu futuro não se revelasse nada promissor. Acabaria os meus dias numa casa decrépita. Tão decrépita como a minha vida inteira... nada mais teria importância depois do que Ellen me mostrara ser o mundo...
Até conseguia ver o filme todo diante dos meus olhos. A bem ou a mal acabaria o meu curso. Sentiria vontade de trabalhar, de ser boa em alguma coisa. Arranjaria um emprego básico e mal remunerado. Com medo de o perder, acabaria de vez com a minha vida social. Perderia o contacto com todos. Começaria a faltar aos jantares de curso, já que de ano para ano não teria nada de novo para contar, filhos ou maridos para apresentar ... perderia por completo o contacto com Ellen e os Cullen.
Aliás, nunca arranjaria um namorado. Ficaria para tia.
Alguns aos mais tarde, quando já estivesse na meia-idade, e com problemas relacionados com a menopausa, perderia o emprego, e arranjaria pelo menos 7 gatos para me fazerem companhia.
Começaria a escrever livros que jamais alguém iria ler. E a minha colecção de pó e gatos cresceria. Sentir-me-ia infeliz, mas pensaria ser feliz.
E acabaria assim, sozinha e seca... sem impressões, ou amizades vampíricas para atrapalhar...
No meio da minha frustração e medo nem dei por Ellen chegar.
- Então, quebra corações, como vai isso? - perguntou-me, sentando-se a meu lado.
- Não me chames isso! – pedi, prendendo a minha cabeça com os joelhos.
- Mas, é verdade! – zombou batendo com o seu corpo duro e gelado no meu.
- Não é nada! – murmurei num fio de voz.
Estava cansada. Não estava minimamente preparada para que isto acontecesse. Eu pensava que era capaz de enfrentar tudo e todos. Mas era mentira.
Conhecer Ellen, partir com ela, e abandona-la ali era o máximo que eu era capaz de fazer. Seth e a sua impressão natural eram demasiado. Estavam acima das minhas capacidades. Acima estavam também as imagens do meu futuro promissor, que se encontravam agora enraizadas na minha mente.
- Oh! Isto não é mau! Vais ver! Até vai ser giro! – papagueava alegremente Ellen.
- Pára Ellen! – pedi com voz arrastada.
Eu estava á beira do colapso. As lágrimas – minhas inimigas antigas – estavam a agora ganhar terreno perante a minha força e determinação.
Sim, eu estava desabar. Afinal, eu era uma simples humana...
- Oh Brianne! Vais ver que isto não é assim tão mau como estás a pensar... - tagarelava Ellen optimista.
Não resisti mais e chorei. Chorei como nunca havia chorado. Chorei por mim. Por Ellen. Por Seth. Chorei por todos quantos estava a prejudicar.
Ellen envolveu-me com os braços, e fez a minha cabeça descansar no seu colo.
E eu deixei que o peso de toda a minha recente realidade caísse sobre mim. Me esmagasse, me sufocasse.
Ali, na floresta, ao lado de Ellen, eu desabei.
Desejei que o solo da floresta me engolisse. Me camufla-se. Me fizesse sua, me integrasse, e me fizesse desaparecer.
Desejei que o céu me sugasse, que se abrisse e fosse capaz de me engolir.
Desejei nunca ter existido.
Mas tudo acaba. E o meu choro acabou também por cessar.
Ellen alisava os meus cabelos.
E sem me aperceber como, acabei por adormecer, desaparecendo da realidade por algum tempo.