"Brianne"
Capítulo 46 - Encontros Nocturnos
O restante dia tinha passado de forma lenta e arrastada. Estabelecera diálogo com praticamente todos os Cullen. Era divertido estar em contacto com os meus heróis de tinta e papel.
Jacob não aparecera durante todo o dia. Parecia que Alice estava a dizer a verdade quando se referira às reuniões de alcateia...
Bella tentou conversar comigo acerca do que se tinha passado, mas haviam sempre demasiadas pessoas à nossa volta e ela compreendia o meu desconforto perante a situação.
Era estranho pensar em Seth, sentir saudades de Seth... mas o que podia eu fazer perante as evidências? A culpa só podia ser da impressão! Sorria sempre ao atribuir culpas à minha mais recente e desconhecida descoberta.
A noite não tardou em chegar e, mais uma vez, Esme prepara-se um jantar divinal. A noite estava fresca, e a lua redonda adornava o céu.
Uma Reneesme esgotada depois de mais um dia de escola, bocejava pela casa. Todos os vampiros conversavam amigavelmente, mas Emmet e Rosalie já haviam subido para o seu quarto.
Achei que estava na hora, de também eu, subir e dormir.
Despedi-me de toda a família e regressei ao quarto de Edward.
Continuava a ser difícil dormir ali. Aquele era um dos cenários mais mágicos dos livros. Fora ali que Bella aceitara finalmente o pedido de casamento de Edward.
Subi as escadas, e dirigi-me ao quarto – o último do corredor. Entrei. Olhei em redor, soltando um suspiro prolongado.
Sentei-me na cama. Era macia e dourada. Suspirei uma vez mais.
O mundo era mesmo um sítio maluco não era?
Decidida a tentar descansar o máximo possível – para puder aproveitar os dias com Seth e os Cullen, tomei um banho e vesti o pijama que Alice me tinha arranjado (que era demasiado arejado para a estação do ano, e para meu gosto...)
Tirei a coberta da cama, e deite-me sobre os lençóis de cetim dourados, apagando a luz em seguida.
A luz proveniente da lua ainda iluminava o quarto.
Imaginei Seth, com a sua alcateia de lobos correndo pela floresta, ao mesmo tempo que Ellen caçava lado a lado com Alice. Por momentos fui capaz de ver Bella e Edward a verem Reneesme dormir, na casa que eu não conhecia.
Fechei os olhos, forçando-me a adormecer.
Supunha que havia passado um bom par de horas e eu continuava acordada e desperta.
Então, comecei a ouvir pequenos barulhos. Atentei os ouvidos.
Pereciam pedrinhas e embater contra os vidros da janela.
Sentei-me na cama. Mas quem estaria a atirar pedrinhas à janela do quarto de Edward?
Seria algum vampiro? Oh! Poderia ser Ellen... mas ela não entraria antes pela porta?
Sem saber quem seria, dirigi-me à janela, e espreitei para fora, através do vidro. Estava demasiado escuro, e sombrio para conseguir ver alguma coisa, mesmo que a lua emitisse alguma luz, as árvores projectavam as suas sombras.
- Brianne? – chamou uma voz que imediatamente reconheci.
Tentei convencer-me que o frio na barriga que eu senti no memento em que ele me chamou se devia ao frio da noite.
Abri a janela.
- Seth? O que estás a fazer aqui? – perguntei para a escuridão.
- Preciso de falar contigo – murmurou a voz, vinda do andar de baixo.
- E não pode esperar para amanhã? E quando eu te puder ver? – questionei, varrendo todo o terreno com os olhos, esperando distinguir a sua forma.
- Não. E sim. – respondeu com um sorriso na voz
- Desculpa? – sorri também.
- Bri, sai da frente.
- Da frente? Da janela? – Pergunta parva, Brianne!
- Sim. Eu vou subir.
- Subir! Como? – olhei em volta, procurando o meu casaco. Não ia falar com Seth com aquela roupa minúscula.
Encontrei-o pousado em cima do sofá.
Mal tinha enfiado uma manga no casaco, já Seth estava ao meu lado.
Com um sorriso aberto e caloroso, olhou-me de alto a baixo, e eu senti-me corar.
Apertei rapidamente o casaco. E sorri-lhe também.
- Oh! – exclamou olhando para a cama desfeita. - Estavas a dormir?
- Nem por isso... - sosseguei-o.
Seth deu um passo em frente, encurtando quase totalmente o espaço entre nós. Senti-me como se estivesse novamente naquela gruta, encurralada. Mas, será que eu estava incomodada com isso?... Talvez devesse... mas não estava.
- Estive a pensar no que me disseste.
O que é que eu dissera? Será que tinha pedido para ele se afastar de mim?
Uma onda de culpa e tristeza invadiu o meu peito. Sim. Eu deveria ter dito algo do género.
- Hum...
- E acho que tens razão – comunicou-me, com um leve sorriso nos lábios.
- Pois... - respondi laconicamente. O que mais poderia eu dizer? Sim, Seth, vou-me embora. Muito provavelmente nunca mais voltarei, mas a partir do momento em que nos olhamos pela primeira vez, sinto alguma coisa por ti? Que não sei bem o que é, mas que quando me olhas, os meus ossos ficam esponjosos?...
Não, não podia dizer nada disto. Seth tinha o direito de ter uma vida – a sua vida.
E a magia e facilidade da noite anterior tinha definitivamente ficado enclausuradas naquela gruta.
- Bem, e eu quero conhecer-te melhor!
Eu tinha dito aquilo?
- Tu não vieste cá despedir-te de mim?
- Porquê? Tiveste de antecipar a tua viagem? – perguntou alarmado.
- Não, mas eu pensei que...
- Eu já te disse que não ia desistir. Nem agora, nem nunca. – disse-me olhando-me nos olhos, lendo decerto a minha alma.
Pegou na minha mão e levo-a ao seu peito. Senti um calor imenso, e um coração a galopar no seu peito.
- Neste memento, e desde que te vi, ele bate por ti – disse-me com uma voz melosa.
Eu não tinha jeito algum para este tipo de coisas. Nenhum mesmo. Sempre me disseram que quando gostasse verdadeiramente de alguém este tipo de coisas ia ser natural.
Pois bem, até podia ser natural, um dia, mas não comigo naquele pijama, no quarto de Edward, em Fosks.
Era mesmo uma confusão!
Decidia a aligeirar o ambiente, dei uma palmada no ombro de Seth com a mão livre.
- Parvo – disse com uma gargalhada.
Seth riu também e abanou a cabeça.
Arrastei Seth até ao sofá – ele ainda segurava a minha mão – sentei-me, e ele sentou-se bastante perto de mim. Começou a brincar com a minha mão.
- O que queres saber?
- Tudo! – riu - O que gostas, o que não gostas!
- Bem... sempre podes ir á minha página do Facebook – gozei.
- Oh! – ralhou-me, fingindo dar-me uma palmada na mão.
- Por onde queres que comece?
- Pelo princípio – respondeu simplesmente.
Encolhi os ombros e arrulhei sem parar.
Falei-lhe da minha família. Dos meus pais, de Roselyn, do nosso canário, gato e peixe.
Falei-lhe da avó, e do avô. De Kelly, Sara, Rita, Júlia, Laura e Melissa.
Das aulas, da universidade. Dos posters da parede do meu quarto. De como tinha conhecido Ellen, e de pensar que estava louca.
Rimos juntos quando lhe contei da encenação de desmaio no bazar chinês.
Falei-lhe dos meus gostos musicais, do meu gosto por bandas e livros que poucos conheciam. E ficamos surpreendidos por muitos dos gostos coincidirem.
Disse-lhe que gostava da sua personagem nos livros. De elefantes e gatos. De neve e frio. De sol, e não de calor em excesso. De florestas e de mar. De estar sozinha, mas não do silêncio. De azul e de sapatilhas. De Ellen, mas não dos problemas que tinha arranjado com Kelly... da minha vida...
Estivera a um passo de completar a frase " gosto da minha vida... mais ainda depois de fazeres parte dela"... mas fechei a boca. Não podia alimentar falsas e futuras esperanças a Seth, nem a mim mesma.
Falara durante um bom par de horas, durante as quais Seth me ouvira sempre com um sorriso aberto, e brincando com a minha mão.
- Bem, suponho que já não tenho mais nada para te contar – comunique-lhe.
- Tenho a certeza que tens!
- Estás enganado! A minha vida é uma pasmaceira - fiz uma careta.
- Aposto que não é! – disse-me olhando-me nos olhos. – E não falaste de um dos tópicos.
- Um dos tópicos? – perguntei surpresa.
O que ainda me faltaria falar?! Tópicos?
Olhei-o expectante e ligeiramente confusa.