- Um dos tópicos? – voltei a repetir.
Ao que queria parecer, Seth tinha esta conversa bastante mais bem pensada do que eu poderia supor. E pelo que podia ver tínhamos tópicos.
- Sim – esclareceu. – O Tópico.
- Hum... - respondi franzindo o sobrolho, não captando minimamente a mensagem que Seth me pretendia transmitir.
- Sim. Rapazes – referiu olhando de imediato para a minha mão.
- Ah! – gargalhei.
Ficamos os dois em silêncio, até Seth me voltar a encarar.
- Então? Não dizes nada.
- Não há nada para dizer!
E não havia mesmo. Eu não tinha vida amorosa, por assim dizer. Talvez apenas me tivesse apaixonado uma vez. Apenas uma vez, quando ainda não tinha idade nem maturidade para saber o que queria, ou se queria. E esse sentimento platónico estabilizou, passando a fazer parte integrante de mim. Como um apêndice, que a qualquer momento pudesse ser tirado, embora doesse. E doía... às vezes...
Não falava dele. Não era preciso. Ele era parte de mim, até ao dia em que tivesse de forçar a sua saída.
Com o passar dos anos acabara por aceita-lo. Restaria sempre alguma coisa dele...
Até à uns dias atrás, podia jurar que esse apêndice era verdadeiro, embora platónico. Agora, naquele momento, entendia que aquele sentimento, infantil e bonito, era dispensável, e que afinal de contas eu não estava condenada a suporta-lo toda a minha vida.
E que com toda a certeza, não era amor. Poderia ser estima, apreço, mas nunca amor. Amor era algo mais... algo que estava agora naquele quarto...
- Não posso acreditar que não deixaste ninguém à tua espera em Portugal – disse descrente.
- Acredita, não deixei – respondi revirando os olhos.
Seth perscrutou a minha face procurando decerto algum laivo de mentira.
- Fico contente – comunicou-me por fim.
Abanei a cabeça com um sorriso. E ele que não dissesse algo do género.
Seth puxou-me pela mão, fazendo-me perder o equilíbrio e cair sobre o seu peito.
- Seth...!
- Schhhh...! – sussurrou-me.
Tal como na noite anterior, aninhou-me contra si.
- Tens que te ir embora! – disse-lhe sorrindo. – Não podes dormir aqui!
- Eu sei... só mais cinco minutos.
Aconcheguei-me mais, inalando o seu odor florestal.
Seth fazia-me festinhas no cabelo, e começou a cantarolar. Reconheci de imediato a música – tínhamos falado dela no decorrer da nossa conversa.
"Something always bring me back to you, it never takes too long*" foi a última coisa que ouvi antes de adormecer.

*Gravity – Sara Bareilles