"Brianne"
Capítulo 50 - Feliz
Quanto tempo demora um dia quando se é feliz? Quantas horas tem quando queremos prolongar os momentos para sempre?
Nada mais, nada menos, do que tanto tempo quanto um dia normal, ou um dia de cão.
A nossa percepção sobre esse dia é que se altera. Assim, os meus dias em Forks não tinham 24 horas, tinham antes, no máximo, umas 12 míseras horas.
Seth esforçava-se ao máximo para que eu me sentisse em casa. E ambos fazíamos um esforço colossal para não pensarmos que os nossos dias estavam cotados. Agíamos como se a eternidade fosse nossa, mas no fundo ambos nos sentimos desolados com a ideia da partida. Claro que eu queria voltar para casa, para ao pé dos meus pais e irmã, para o meu lugar no mundo. Mas, depois das transformações ocorridas como poderia eu rumar livremente até casa? Algo, algo de muito forte me prendia ali.
Mas, mesmo assim era bastante fácil duvidar da realidade. É fácil faze-lo quando estamos felizes.
Simplesmente não somos capazes de desfrutar o mel sem prensarmos no sabor do fel. Talvez o meu maior problema residisse no facto de eu não gostar de mel...
Independentemente de tudo, a verdade era simples: eu estava tão feliz ao lado de Seth, que me custava realmente a acreditar que tudo aquilo fosse, de facto, verdade.
Mas, o meu lobo pessoal estava a esforçar-se por fazer da minha estadia um conto de fadas.
Seth estava decidido a mostrar-me La Push de cima a baixo, e em toda a sua extensão. Tínhamos andado largos e cansativos quilómetros durante toda aquela manhã.
Depois, e como por magia, fez aparecer um cesto de piquenique, e almoçamos na praia.
Naquele momento, e por insistência minha, estávamos a fazer uma pausa.
- OH – queixava-se ele. – Ainda nem viste metade!
- Eu sei... - disse encostando-me mais a ele, já que a brisa marinha era gélida.
Seth passou um braço sobre os meus ombros.
Gestos como este tinham-se tornado uma constante. Durante praticamente toda a manhã, tínhamos estado de mãos dadas – muito por causa da minha falta de equilíbrio nas rochas.
Mas, era como se impressão descarregasse sobre nós uma força magnética que nos atraia na direcção um do outro, como imans. Claro que eu não deixava a situação chegar ao extremo. Nunca nos havíamos beijado. E se dependesse de mim, assim haveríamos de ficar.
Não que eu fosse pudica, ou não quisesse. Queria. Mas, Seth não merecia sofrer. Quanto menos de mim obtivesse, melhor para ele a longo prazo.
- Devia ir falar com a Ellen – disse lembrando-me que ainda não havíamos falado sobre os seus planos para a minha partida.
- E eu? – perguntou alarmado.
- O que fazias antes de eu chegar? – respondi rindo.
- Nada! A minha vida era uma treta – riu, apertando-me mais no seu abraço.
Tossi, descrente, gozando.
- É verdade! Não gozes!
Seth passou os seus lábios pelo meu pescoço.
- Bem – disse levantando-me num salto. – Vamos lá ver as vistas.
Um beijo no pescoço estava bem perto dos nossos limites Bem estabelecidos.
***
Foi também nesta tarde que Seth me deu um presente especial.
- Estou taãoooooo cansada – queixei-me outra vez.
- Oh, vá lá! Não sejas preguiçosa! Ainda não chegamos à parte mais bonita! – disse apontado para a nossa frente.
- Além do mais aqui em cima desta falésia está frio – reclamei.
Seth largou-me a mão.
- O que é que estas a fazer? – perguntei surpreendida ao vê-lo tirar o seu amado casaco de cabedal preto.
Não sei porque Stephenie Meyer não relatou episódios de Seth e do seu casaco de cabedal, aliás, até poderia ter escrito uma saga inteiramente sobre isso.
Mesmo sem ter frio algum, Seth não despia o seu casaco por nada (excepto para dormir, disso eu tinha provas!)! Era uma espécie de relação de parasitismos, uma simbiose qualquer. A verdade era que o casaco lhe ficava extremamente bem, mas daí a nunca o despir...
- Não quero que te constipes!
E sem que eu me pudesse debater, Seth vestiu-me o casaco com um sorriso aberto.
- Agora, nunca mais o tires! Leva-o na contigo para onde quer que fores, trá-lo junto à pele. Eu vou estar sempre contigo...
Percorri os passos que nos separavam, tomei as mãos de Seth nas minhas. Visivelmente emocionada, beije-lhe levemente a ponta do nariz e o rosto de ambos os lados.
- Não era preciso o casaco. Já te levo comigo, sabes disso – comuniquei-lhe.
Senti um impulso enorme que me pedia para o beijar e acabar de uma vez por todas com aquele jogo restrito que eu teimava em fazer.
Mas, a minha razão estava alerta. E ela não iria ceder.
Seth abraçou-me forte. Não era preciso dizer mais nada. As palavras naquele momento eram desnecessárias. Ambos sabíamos o que as palavras jamais poderiam expressar.
Passei o resto do dia com o casaco de cabedal vestido e de mãos dadas com Seth.