"Brianne"
Capítulo 53 - Seth, O Lobo
Estava uma noite fria. O vento ia-nos acoitando a face à medida que caminhávamos paralelamente com a linha da praia.
- Queres? – perguntei a Seth oferecendo-lhe o gelado que estava a degustar.
- Não obrigado – agradeceu. – Aproveita-o, sei como é bom!
- Não sabia que na reserva havia especialistas em gelados – comentei.
- Não é na reserva, é em minha casa – esclareceu.
Recordei os momentos que havíamos vivido em sua casa...
Leah era bastante simpática, nada como a loba retratada por Stephenie Meyer e Sue era um encanto de pessoa.
Como se soubesse no que eu estava a pensar, Seth apertou a minha mão na sua.
- A minha mãe adorou-te – disse. – E por estranho que pareça, conseguiste conquistar o melhor lado da Leah.
Sorri.
- Parece que a impressão tem muitos efeitos colaterais.
- Não me parece – disse, olhando-me nos olhos. – Tu é que tens efeitos colaterais.
Semicerrei os olhos, tal como fazia com Ellen sempre que a minha vampira se preparava para me lançar uma piada mais bem elaborada.
- Não me lances olhares ameaçadores, Brianne! Especialmente quando estás assim vestida – avisou. – Não te esqueças de que eu sou um Lobo!
- Uhhhh! Um lobo! – gozei, fingindo medo.
- Se Eu – disse apontando teatralmente para o seu peito – Não fosse um lobo, tenho a certeza que não te tinha conseguido tirar de casa, sua teimosa!
- Verdade. Só mesmo o lobo mau para me tirar de casa hoje! – concordei.
- Sou mesmo mau! E valente – acrescentou convencido.
- Uh! Lobo grande e mau – gozei com uma gargalhada.
Seth parou de andar. Senti a sua mão gelar sob a minha.
Voltei-me. O seu olhar estava vago, o seu semblante carregado.
- Seth, o que...
- Gostavas de ver? – interrompeu-me.
- Ver...? – perguntei perdida.
- De me ver transformado. De ver como sou... também... - explicou abanado a cabeça.
A resposta fácil e directa era: Sim! Tinha uma curiosidade imensa em vê-lo na forma animal, mas jamais o sujeitaria a isso, jamais lho pediria directamente. Não tinha o direito de lho pedir.
Encolhi os ombros.
- Não tens curiosidade? – insistiu, com ar sério e grave.
- Nunca te vou pedir que o faças – respondi.
- Porquê? – questionou olhando-me no olhos.
- Sei que é difícil para ti... não quero que o faças por mim.
- Quero que me conheças, me vejas... de todas as formas – respondeu.
Um frio instalou-se na minha barriga. Nunca pensei que a noite especial de Seth fosse por este motivo. Nunca imaginei que ele se preocupasse com este assunto. Nunca me passara pela cabeça.
- Fica aqui – pediu largando-me a mão, desaparecendo por entre as árvores à nossa frente.
Obedeci. Penso que naquele momento deixei também de respirar. Era difícil pensar com clareza. O gelado, com que anteriormente me deliciava, estava agora pendido na minha mão - parecia não se encaixar naquela cena
Os meus joelhos tremiam, sentia a boca seca e o vento que anteriormente me atingia, parecia agora ter a força de um tornado; os meus sentidos estavam mais apurados, em alerta.
Alguns minutos volvidos vi-o. Era enorme, cor de ferrugem, imponente, majestoso, e por incrível que parecesse familiar.
Era Seth. O meu Seth só mais peludo e em formato gigantesco.
Os seus olhos eram os mesmos – escuros, profundos, enigmáticos, inebriantes.
Sorri.
Seth permaneceu obstruído pelos arbustos. Parecia receoso de se aproximar. Inclinei a cabeça tentando ver o porquê de ele encurtar o espaço sepulcral que nos separava.
O grande lobo moveu também a cabeça, apontando com o focinho para o chão, numa pose triste, fechando automaticamente os olhos.
Dei um passo confiante em frente. Queria que Seth percebesse que eu não tinha medo, e que o via a ele, o rapaz moreno, alegre e brincalhão por quem me apaixonara.
Não queria distância entre nós.
O gelado escorregou-me da mão no momento em que corri na direcção do lobo. Só parei quando este já estava ao alcance da minha mão.
Seth levantou a cabeça. Os seus enormes olhos eram um espelho de tristeza.
Porque estaria tão triste? Teria medo da minha reacção? Ou pensaria na minha partida?
Estendi a mão. Os olhos de Seth retraíram-se com o meu movimento. Podia imaginar sua face a contrair as sobrancelhas, a uni-las, emoldurando os olhos.
Mergulhei os meus dedos na imensidão do seu pêlo macio e espesso.
Seth fechou os olhos, entregando-se. Repeti-lhe o gesto.
E naquele momento, ambos sabíamos que aquele era o nosso primeiro beijo. De uma forma alternativa, íntima e nossa.