"Brianne"
Capítulo 54 - Senhores do Tempo
Gostava de ter o poder de parar o mundo. Fixa-lo onde bem me apetecesse. Nos momentos em que me sentisse absoluta e completamente feliz ao lado de Seth.
Gostava de poder pará-lo quando Seth me envolvia nos seus braços, me sussurrava ao ouvido que me amava.
Gostava que de ser mais forte, de ser capaz de olhar na imensidão dos olhos de Seth e acreditar que tudo acabaria por se compor, que haveríamos de ficar juntos.
Gostava de ser capaz de mentir, de me enganar, de engana-lo, de me convencer, de me forçar a acreditar...
Mas não era. Quem alguma vez disse que o mundo era um sítio simples e habitável, era, sem sombra de dúvidas, um grande aldrabão.
O meu mundo, o nosso mundo, era tudo menos fácil.
Éramos, agora, parte indissociável um do outro. Éramos um, e um do outro.
Mas nada poderia evitar a partida. O nosso destino estava traçado, e naquele momento nada poderíamos fazer para o alterar, por isso, aquela seria a minha última noite em Forks. A última noite que passaria em solo americano, a próxima seria passada algures dentro de um avião.
O dia tinha sido passado, invariavelmente com o meu lobo. Voltamos a percorrer, os agora conhecidos caminhos de La Push, a praia que agora era nossa.
- Queres ficar comigo esta noite – dei por mim a perguntar quando Seth me levou a casa, naquela noite.
Seth sorriu de forma triste.
- Estava a ver que nunca mais perguntavas – disse em tom de brincadeira, apertando-me mais a mão na sua.
Sorri, camuflando o meu estado de espírito.
Entramos em surdina na casa, àquela hora vazia, mesmo que nela ninguém estivesse a dormir.
Foi naquela madrugada, enquanto partilhávamos a cama, que a maior tempestade de todos os tempos rebentou em Forks, esta em nada comparada com a pequena tempestade que eu havia testemunhado na praia, alguns dias atrás.
O céu devorou a terra. A chuva tomou posse do que pretendia tomar como seu. Tudo se revoltou e não foi só o estado do tempo. O meu peito era a chuva revolta, o de Seth o vento feroz. Naquela noite, nós comandávamos o tempo, marcávamos território com nosso medo, angustia e sofrimento.
Ao longe um trovão soou e eu prendi as minhas lágrimas.
- Abraça-me – pedi, encolhendo-me na cama.
Seth apertou-me nos seus braços, aconchegando-me junto a si.
- Schh... - sossegou-me. – A tempestade vai amainar.
- Vai? – perguntei não me referindo à tempestade.
- Havemos de a fazer parar – respondeu.
Tive uma imensa vontade de o beijar, de acabar com aqueles limites estúpidos que eu criara, de por tudo por terra e me entregar. Mas, em vez disso fechei os olhos e toquei ao de leve com os lábios no seu peito.
- Dorme... sonha com os anjos – sussurrou enquanto a chuva batia nos vidros da janela.
- Não quero dormir... não quero que este dia acabe – confessei.
- Nem eu... mas não podemos fazer nada...
- Por agora – acrescentei.
- Por agora – repetiu, beijando-me o alto da cabeça.
- Mas, gostava de parar o relógio – disse de olhos fechados.
- Não seja por isso – retorquiu virando-se no colchão, levando-me consigo.
Com uma das mãos alcançou o relógio despertador que estava cuidadosamente pousado na mesinha de cabeceira. Com a perícia de um profissional, desligou-o. Os números brilhantes e difusos que iluminavam o quarto desapareceram.
Sorri e fiz o meu queixo descansar no seu peito. Seth acariciou as minhas costas.
- Vês? Paramos o tempo! – vangloriou-se.
- Parece que sim – disse com um sorriso aberto.
A manha seguinte, seria triste e de despedidas, mas, naquela noite, em que o temperaste fustigava a floresta, tudo era insignificante. Tudo o que importava éramos nós.
E assim, como Senhores do Tempo que éramos, adormecemos no tempo, que naquela noite, era nosso.