"Brianne"
Capítulo 55 - Festa de Despedida
Acordei e mantive os olhos fechados. Podia sentir os dedos de Seth desenhando formas difusas nas minhas costas.
Afundei mais a minha face no seu peito, e suspirei profundamente inspirando o seu aroma tentando tatua-lo na minha mente.
- Bom dia – murmurou com voz rouca.
- Bom dia – respondi sem abrir os olhos. – Dormiste bem?
- Hum... - disse aconchegando-me mais contra si, beijando-me o topo da cabeça. – Decidi aproveitar o tempo, e não dormir.
Ergui-me nos cotovelos e abri os olhos para vê-lo.
- Porquê?
- Entre ver-te dormir e sonhar, e desperdiçar o meu tempo, o que achas que ia escolher?
- Oh! Parvo – proferi beijando-lhe a face.
Este simples gesto invadiu o meu corpo por uma corrente eléctrica. Este poderia ser um dos nossos últimos beijos. Esta seria a nossa última manha. A última...
Seth pareceu absorver o meu estado de espírito.
- Bem, é melhor eu sair para tu poderes tratar das... das... - gaguejou – das hum... tuas coisas... - disse evitando a frase "fazer as malas".
- Sim... pois... - respondi acordando do meu transe, sentando-me na cama.
Seth levantou-se, agarrou nas suas roupas espalhadas e sapatos e dirigiu-se à porta.
- Estou lá em baixo à tua espera – comunicou-me piscando-me um olho.
- Ok.
Permaneci sentada na cama durante mais alguns minutos. O meu coração galopava no peito, tentando a perseguir Seth escadas abaixo. A minha respiração estava rápida e acelerada, respirei fundo tentando controla-la.
Olhei em redor, procurando pormenores que me distraíssem. Consegui localizar alguns dos meus pertences. A T-shirt "I ♥NY", o meu velho casaco de fato de treino, o casaco de couro de Seth.
Soltei todo o ar que os meus pulmões sustinham. Levante-me cuidadosamente da cama e reuni todas as roupas dispersas, dobrei-as, e pu-las na mochila. Demorei algum tempo a reunir todos os meus pertences, porque Alice insistira em lavar as roupas enquanto eu não estava, e colocara-as em locais que eu desconhecia.
Depois de me certificar que o quarto estava tão limpo e arrumado como o conheci no primeiro dia, tomei um banho rápido e desci.
Seth estava na cozinha, de costas para mim.
Parei perto da ombreira da porta esperando que ele se voltasse, mas, em vez disso permaneceu tal qual como o encontrei: de pé, voltado para a grande janela, de cabeça levemente baixa.
Tremi ao pensar que talvez ele estivesse a chorar.
Arrepiada percorri o espaço que nos separava, alcançando-o pelo braço.
- Seth – chamei – Está tudo bem?
- Oh! Bri! Que susto! – repreendeu-me.
- Desculpa... mas – parei ao vê-lo com o telemóvel na mão. – hum... interrompo?
Perguntei educadamente. Era uma ingenuidade da minha parte, mas até há uns segundos podia jurar que Seth não tinha telemóvel.
- Não. Não te preocupes! – respondeu com um sorriso matreiro.
Por algum motivo, que não conseguia dizer qual, percebi que alguma coisa não estava bem. E não era o facto de eu me ir embora ou de ter descoberto que Seth tinha um telemóvel, havia algo mais...
- Que me dizes a um pequeno-almoço reforçado na cidade? – questionou.
Encolhi os ombros, franzindo instintivamente as sobrancelhas.
- Vá lá! – insistiu empurrando-me pela porta – Não faças essa cara! Vai ver divertido!
*
Seth apresentou com o mesmo comportamento durante toda a manhã. Repetia as mesmas frases, ideias e gestos...
A ideia de que algo não estava bem, ganhava cada vez mais terreno na minha mente. E a ausência de todos os Cullen, principalmente Ellen, em casa, quando saímos, estava a intrigar-me.
Ao final da manhã, um Seth visivelmente nervoso, pediu-me que regressássemos a casa.
- Mas o que é que se passa? – perguntei exasperada.
- Nada! Não sejas desconfiada!
Voltamos para casa em alta velocidade. O pobre carro de Seth gritava de desagrado, mas nem isso o demovia de carregar de modo violento no acelerador.
Paramos bruscamente em frente da grande casa branca, de parede envidraçadas.
- Agora que já aqui estamos, podes dizer-me o que se passa contigo?
- Vem, e verás – disse enigmático.
Saiu do carro; segui-o. Parou antes de subir as escadas de acesso e estendeu-me a mão.
Como por magia, a porta da entrada abriu-se e um coro de vozes indistintas e sincronizadas gritou "SURPRESA!"
Abri a boca de espanto ao ver os rostos de todos os que conhecia naquela cidade: os que eram apenas, e ainda, fruto da minha imaginação, e aqueles que já faziam parte de minha vida.
Seth abraçou-me pela cintura e depositou-me um beijo no pescoço.
Sorri e engoli as lágrimas que estavam prontas para saltar.
A minha festa de despedida em Forks foi farta em comida, animação, abraços, conversas e sorrisos.
Foi também um modo fácil de camuflar o nó no estômago que muitos de nós sentiam.
Foi a maneira original que Ellen e Alice arranjaram para tornar a partida a menos traumática possível.
E resultou.
Despedi-me de todos os recém-conhecidos com um "até logo", e não com um "até sempre".
Deixei os que realmente conhecia para o final. Quando já não houvesse tempo para mais nada, quando a mala estivesse ao ombro e o carro à espera.
E deixei Seth segurar-me a mão todo o tempo, e fiquei mais ciente que nunca, que dele era impossível despedir-me.