"Brianne"
Capítulo 57 - Ele Nunca Desiste...
Sempre gostara de viagens de carro. Desde pequena que me imaginara fazer grandes viagens só eu, a mochila e a maquina fotográfica. Viagens essas que seriam feitas só pela diversão de viajar num carro, e pelo prazer de conduzir.
Gostava de imaginar a vida dos condutores, com quem me cruzava na estrada. Estariam a regressar a casa depois de um longo dia de trabalho? Estariam de regresso para os braços dos seus amores? Estariam atrasados para ir buscar os filhos à escola? Seriam apenas viajantes em destino?...
Mas, em nenhuma das minhas fantasias de criança imaginara uma viajem tão emocionalmente desgastante e arrasadora como aquela.
Ellen decidira levar-me directamente ao aeroporto de Seatlle, o que implicava uma viagem de mais de duas horas de carro.
Não falei durante todo o percurso. Também não chorei. Em vez disso, olhei sempre para o exterior. Tentei, sempre com sucesso, desviar o meu olhar do de Ellen e desviar a minha atenção para a paisagem.
O tempo foi-se arrastando, não tinha perfeita noção do que se passava, tudo era difuso, irreal.
Passado o que poderiam ser apenas 10 minutos, ou vários dias de tempestade, Ellen despertou-me do meu transe, com um suave toque no meu braço.
Dei conta que o carro havia parado, e que estávamos num parque de estacionamento.
- Chegamos – comunicou-me com um murmúrio.
Acenei afirmativamente coma cabeça, mostrando-lhe que havia compreendido o que ela me estava a dizer.
Saímos do carro de Alice – tentei ao máximo não pensar na minha última viagem naquele mesmo veículo.
Dirigimo-nos, lado a lado, para o aeroporto apinhado de gente. Ellen levava a minha mochila.
Os meus pés recusava-se a caminhar de modo normal e natural. Estavam pesados, querendo obrigar-me a parar.
No momento em que entramos através das portas giratórias, grossos pingos de chuva começaram a cair do céu escuro.
O ar quente do aeroporto acolheu-nos. Olhei, alheia, em volta procurando o que ali não se encontrava.
- Vou ver se está tudo OK...- comunicou-me Ellen com um voz suave afagando-me o braço.
Acenei novamente com a cabeça.
Vi Ellen desaparecer pelo meio da multidão de viajantes. Permaneci colada o chão, ridiculamente parada no meio de tudo, sentindo (-me) nada.
Tinha vontade de chorar. Como se toda a minha sobrevivência dependesse desse acto. Como se chorar, naquele momento, fosse mais importante do que respirar.
Subitamente o meu cérebro despertou e lembrou-me que eu não tinha nenhuma prova física e comprovada da existência de Seth.
Tenho o casaco, pensei, abraçando-me a mim mesma, sentido o couro.
Isso não prova nada, castigou-me uma vez mais, há muitos casacos iguais.
Foi então que o senti.
Perto. A minha pele estava arrepiada. Voltei-me lentamente.
Lá estava ele.
Corado. Ofegante. Era notório que estivera a correr. Teria corrido até ao aeroporto? Notei também que tinha a sua t-shirt salpicada pela chuva.
Ignorei todas as perguntas que o meu cérebro disparava, e corri em direcção a Seth.
Os meus pés, lentos por natureza, pareciam mais lentos ainda.
Não sei como, mas no meio da multidão, Seth acabara por também me localizar.
Agora, ambos corríamos... um para o outro, para o passado que era nosso, fugindo do futuro que nos separaria.
Alcancei-o. Abracei-me a ele – qual lapa numa rocha.
-O que estás a fazer aqui? – perguntei.
- Esqueceste-te de uma coisa – comunicou-me.
Com suavidade afastou-me de si, levou a mão ao bolso traseiro das calças.
Entregou-me um pequeno rectângulo.
Mesmo antes de o aceita percebi que se tratava de um Polaroid.
Virei a foto para mim.
Éramos nós. Estávamos na praia, na nossa praia. Eu estava nos braços de Seth. De olhos fechados, enquanto este brincava com os meus cabelos revoltos.
Mesmo àquela distância, e através de um pedaço de papel, a nossa felicidade era palpável.
- Um dos rapazes da alcateia gosta de tirar fotos na praia. Um dos mais novos... – explicou-me.
- Também trouxe uma coisa tua – ouvi-me dizer abruptamente.
- O quê? – perguntou confuso.
Olhei-o nos olhos. Na sua imensidão. Depois, simplesmente fechei os meus e aproximei-me dele.
O beijo que há muito estava guardado, soltara-se. Não era meu. Pertencia a Seth - era dos nossos lábios.
O sabor agridoce do nosso beijo deixava mais patente do que nunca a nossa separação: amor e despedida; desejo e adeus.
Ofegantes, separamo-nos.
- Não devíamos ter esperado tanto – disse, passando os lábios pelo meu nariz.
Soltei uma gargalhada gradual, apertando mais o círculo que os meus braços formavam ao seu redor.
- Não, não devíamos... - concordei.
Atrás de mim, alguém pigarreou.
Ellen esboçava um sorrido aberto quando a encarei.
- Está na hora, não está – não era uma pergunta.
- Sim – respondei-me Ellen, ao mesmo tempo que o seu sorriso desvanecia.
Acenei-lhe com a cabeça, mostrando a decisão que não sentia.
Voltei-me de novo para Seth.
- Amo-te – disse-lhe. – Até já.
- Até já, meu amor.
Beija-nos ternamente. Um beijo de despedida corriqueiro. Como o que qualquer um em casa trocaria antes de ir para o trabalho, sabendo que dali a poucas horas se voltaria a encontrar.
Larguei-lhe a mão. Dirigi-me a Ellen.
- Obrigado pela aventura, minha vampira – disse-lhe ao ouvido abraçando-a.
- Obrigado eu! – agradeceu – por tudo. Mas, por principalmente me fazeres acreditar que os sonhos podem e devem ser realidade!
Sorri, segurando as lágrimas.
Agarrei a minha mochila, guardando a fotografia numa das bolsas. Afastei-me.
Antes de entrar pela porta de embarque parei para lhes acenar.
Ellen e Seth estavam lado a lado, de braço dado. Esforcei-me o mais possível por lhes dar o meu melhor sorriso. Acenei-lhes e eles retribuíram.
Respirei fundo durante segundo tentando impedir-me de chorar. Mas, ainda não me tinha instalado no avião e já um rio de lágrimas corria pelo meu rosto.