"Brianne"
Capítulo 58 - Tempo
O tempo é um inimigo difuso e mascarado.
Esconde-se por entre os dias, as horas, os meses. Finge ser velho conhecido e apunhala-nos quando menos esperamos, quando mais queremos que seja breve.
Mas, nada podemos fazer para o deter. Ele tem regras próprias e ardis caprichosos. Passa quando tem de passar, dói o quanto tem de doer.
"O tempo passa. Mesmo quando tal parece impossível. Mesmo quando casa tiquetaque do ponteiro dos segundos dói como o palpitar do sangue sob a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas, lá passar passa. Até para mim."
Li, uma vez mais. Este era o ritual das últimas semanas. Ler sobre o tempo, sobre o sol, a lama, as plantas. Ler sobre nada. Sobre tudo o que me pudesse ocupar a mente. Tudo o que me permitisse não pensar nele. Na falta que ele me fazia, e no quão errado era estarmos separados.
- O que estás a fazer? – perguntou Kelly entrando alegremente no quarto segurando num copo de água. Veio sentar-se na beira da minha cama.
- Nada – disse com voz rouca, limpando eficiente e disfarçadamente as minhas lágrimas.
As coisas entre nós tinham voltado ao normal. Sinceramente, já nem me conseguia lembrar qual fora o motivo do nosso desentendimento.
Quando regressei em cacos, Kelly tentara infrutuosamente juntar todos os pedaços, tentar manter-me erguida.
Não me fizera demasiadas perguntas. Mas, mostrara-se verdadeiramente preocupada comigo. Questionar-me acerca de Ellen, mas vendo as minhas reticências em responder, acabara por respeitar o meu silêncio, e deixara de perguntar.
A minha família notara também a minha mudança, percebera que algo, na minha essência se tinha alterado. Mas, vendo o meu esforço por ser normal, associaram esta alteração de comportamento a simples cansaço.
Havia recebido algumas notícias de Forks, e, embora tenha falado apenas duas vezes com Seth ao telefone, os emails eram praticamente diários.
Mas, era difícil para ambos mantermos o contacto. Era mais doloroso saber que ele passara o dia todo em mim, e que ficara sentado na nossa praia, do que imaginar que ele o fizera. A certeza do seu sofrimento era devastadora em mim.
Nenhum dos dois sabia o que fazer. Estávamos perdidos, e com medo. Nenhum dos dois queria perder o outro, mas também não nos queríamos magoar.
Por isso, estávamos a dar tempo ao tempo, a esperar que o destino se encarregasse de nós, e nos juntasse, ou nos tornasse doce memória, lembrança apenas...
A única certeza que tínhamos era o amor que partilhávamos. Esse sim estava vivo e bem patente em cada palavra trocada.
- Estás cá com uma cara! Essa parte da história dever ser mesmo triste – frisou Kelly, bebendo um gole da sua água.
- Sim. Muito triste... - confirmei erguendo a sobrancelha – Muito triste mesmo.
Era, de facto muito triste. E não era apenas a história que o era...