"Brianne"
Capítulo 60 - O Jogo Do Gato E Do Rato
Voltei a respirar fundo.
Era impossível concentra-me nas perguntas que tinha de responder com um olhar posto em mim.
Com duas filas de distância estávamos demasiado próximos. Era como se o ar existente naquela sala fosse insuficiente para os dois – e no caso dele, respirar era dispensável.
- Sabes a 3? – perguntou Laura com um leve murmúrio.
Desfolhei o teste procurando a pergunta. Tal como as outras estava em branco.
- Ainda não fiz – respondi.
Laura acenou com a cabeça em sinal afirmativo.
- Quando fizeres diz, ok?
Foi a minha vez de acenar com a cabeça.
Duas filas a baixo, ele sorriu na minha direcção. Semicerrei-lhe os olhos e desvie-os para o papel branco.
"Descreva os aspectos positivos e negativos das três dicotomias de Sausurre"´, li. Esta eu sabia. Tinha estudado bem esta matéria antes de adormecer.
Expirei o ar que tinha nos pulmões e tentei concentrar-me.
Pois bem, as três dicotomias são... são... bem... como é que era mesmo?, interroguei-me a mim mesma.
Abanei a cabeça freneticamente tentando pôr as ideias em ordem.
Reparei que Júlia estava a olhar para mim fixamente.
- O que foi? – sussurrou.
- Não me lembro de nada. É uma "branca", acho eu – respondi no mesmo tom.
- Espera. – disse-me.
Olhei-a perdida. Não sabia o que fazer ou esperar. Não podia tirar negativa naquele teste, mas era-me impossível concentrar-me nele.
- Vira a página – pediu. – Vou ditar-te as escolhas múltiplas, ok?
Os momentos que se seguiram foram de ditado.
Júlia debitou-me a matéria para que eu pudesse responder a algumas das perguntas.
- Muito Obrigada – agradeci quando ela acabou de me sussurrar a chave das escolhas múltiplas.
Com a informação fornecida, escrevinhei as respostas. Sabia que não teria grande nota, mas deveria dar para uma nota positiva.
Levantei os olhos do teste. Ele ainda me olhava pelo canto do olho.
Mesmo àquela distância não pude deixar de repara que estava a usas lentes de contacto. Os olhos eram decididamente uma junção entre o vermelho natural e o castanho das lentes.
Reli o teste, e levante-me.
Agora que as obrigações estavam tratadas, tinha de resolver outros assuntos.
Entreguei o teste. Podia sentir o olhar dele nas minhas costas.
Saí da sala. E precipitei-me para a saída do pavilhão. Se teria de o enfrentar, seria a sós, sem mais ninguém correr perigo.
Já cá fora, enveredei por dos caminhos menos frequentados pelos alunos. Sabia que a qualquer segundo seria surpreendida por ele. Mas, não pude deixar de me assustar quando ele me alcançou.
- És tão previsível, Brianne! – disse com um tom de voz que lhe desconhecia – demasiado rude, demasiado vampírico.
- Tu não – contestei firmemente.
- Essa é uma das diferenças das nossas espécies – esclareceu.
Estava posicionado à minha frente, impossibilitando-me a fuga.
- O que queres, Harry? – perguntei. Proferir o seu nome causou um desagradável sabor na boca.
- Acho que me expressei um bocadinho mal no nosso último encontro – riu.
- Não me parece que tenhas feito – refutei, sentindo o palpitar do meu coração nos ouvidos.
- Pontos de vista, minha cara. Pontos de vista. – respondeu arrogantemente – mas, não é para isso que cá estamos. Quero saber onde ela está.
- Ela...? – fingi não perceber.
Harry deu um passo em frente, empurrando-me mais para a parede que se encontrava atrás de mim.
Era óbvio que ele quereria saber de Ellen. Queria saber onde estava a sua antiga namorada, aquela que perdera por minha causa.
- Não te faças de estúpida – disse fuzilando-me com os olhos carmesim.
- Não sei do que falas – reforcei.
Tão rápido que não sei como aconteceu, Harry esmagava-me contra a parede com o seu corpo, e com uma mão prendia-me a garganta.
- É bom que não brinques comigo. Não gosto de jogos – esclareceu, enquanto aplicava uma força considerável no meu pescoço.
- O que queres da Ellen? – perguntei gastando uma quantidade de ar crucial.
- Isso agora... digamos que a aptidão dela de percepcionar almas e sentimentos é bastante boa para a caça – troçou. – E os atributos físicos dela não deixam nada a desejar...
Sentia o meu cérebro demasiado lento. A oxigenação estava a ser um esforço colossal. Tentava a todo custo levar ar para os pulmões, mas estava a falhar redondamente.
- Não – disse gastando a minha última reserva de ar.
- Tens noção que isso não é a melhor opção, não tens? – perguntou, apertando-me mais o pescoço.
Pestanejei. Abri a boca o mais que podia tentando levar algum ar. Voltei a não ter sucesso.
Naquele momento tomei a minha decisão. Preferia morrer. Nunca, jamais, em tempo algum iria denunciar o paradeiro de Ellen, da minha Ellen.
Sabia que não morreria sufocada. Provavelmente seria encontrada exangue. Abandona no meio de uma das florestas mais próximas.
A minha família sofreria, mas eu morreria para salvar não só Ellen, mas todos os que com ela estavam, incluindo Seth.
Deixei a imagem dele – de Seth, tomar conta da minha mente. E fechei os olhos, sucumbindo e desistindo de procurar ar, onde ele não existia.