Podem ler aqui a segunda parte!
- Então vamos para Dartmouth? A sério? – a minha voz fervia de um entusiasmo muito profundo e igualmente verdadeiro.
- O mais certo é reprovar este semestre. – confessou com um encolher de ombros.
- Serei o teu explicador. E vais adorar a universidade. – o meu sorriso tornava-se cada vez maior. Bella continuaria humana durante mais tempo e por sua escolha! Isso deixava-me feliz, muito feliz.
- Achas que conseguiremos arranjar um apartamento nesta altura do ano?
Franzi ligeiramente a testa. Já tínhamos um lá. Tivera-o comprado dias depois de fazemos o nosso “acordo” caso algo mudasse. Mais vale prevenir do que remediar, é o que se diz. Parece que estava certo.
- Bom, de certa forma, já temos lá casa. Achei que seria melhor prevenir, percebes?
- Compraste uma casa? – disse com a sua cara a tomar uma expressão de surpresa.
- O negócio imobiliário é sempre um bom investimento.
Bella olhou-me com cara de caso por uns segundos, de seguida, sorriu ligeiramente e disse num suspiro:
- Nesse caso, temos tudo o que é preciso.
Quase tudo. O carro de Bella só estava “alugado” até final de Setembro. Iria precisar de falar com a Mercedes e arranjar uma desculpa qualquer para o poder manter por mais tempo.
- Terei de verificar se é possível manter o teu carro “de antes” durante mais algum tempo…
- Sim, Deus me livre de não estar protegida contra tanques! – reclamou com a voz a fervilhar de ironia.
Dei-lhe um sorriso irónico. Não era questão de estar ou deixar de estar protegida contra tanques, mas sim de estar protegida. Faria tudo o que estivesse ao meu alcance para a manter protegida e intacta. Nem que para isso tivesse que matar meio mundo. Ou mesmo o mundo inteiro.
- Vamos ficar por quanto tempo? – questionou-me Bella arrancando-me dos meus pensamentos.
- Temos tempo de sobra. – Estávamos a dia 23. Só se tinham passados 10 dias desde o casamento… Parecia muito mais. - Se quiseres, mais umas semanas. E, a seguir, antes de irmos para New Hampshire, podemos fazer uma visita ao Charlie. E passar o Natal com a Renée.
Tentei agradá-la ao máximo, programando um futuro junto das pessoas de quem ela mais gostava. Era aquilo que Bella queria e, não tinha dúvidas, aquilo que lhe fazia bem. E, se Bella era feliz, eu também era.
Bella olhava por cima do meu ombro com um ar distante. Do nada, o seu olhar focou-se e olhou para mim com um sorriso:
- Algumas semanas. – afirmou baixinho.
Comecei a ouvir um barco a aproximar-se juntamente com uns pensamentos em português. Equipa de limpeza! Bolas! Tinha-me esquecido deles!
Apurei o ouvido e ouvi-os a falar. Estavam discutir quem é que iria para uma ilha tão longe e isolada. A mente da mulher, Kaure, estava povoada de imagens míticas. Dali podia surgir um problema… A sua tribo acreditava em certos mitos. Gustavo, que não acreditava em nada, estava a tentar acalmá-la e dissuadi-la de qualquer plano mirabolante que ela tivesse.
Bella inclinou-se ligeiramente na minha direcção e disse com uma voz insinuante:
- Portanto, estava a pensar… Lembras-te do que te estava a dizer em relação à prática?
Ri-me descaradamente. O tempo nunca parecia ser o suficiente para fazermos tudo aquilo que queríamos.
Mas, tinha a certeza que eles não demorariam muito. Era bom que fossem rápidos…
- Podemos voltar a isso depois? Estou a ouvir um barco. Deve ser a equipa de limpeza. – disse-lhe com um sorriso. – Deixa-me ir explicar a trapalhada do quarto branco ao Gustavo e, a seguir, damos uma volta. Na selva, há um sitio mais a Sul…
- Não quero ir dar uma volta. – interrompeu-me Bella de imediato – Não estou interessada em escalar a ilha inteira. Hoje, prefiro ficar e ver um filme.
Tentei não me rir do seu tom de voz. Era suplicante e ao mesmo tempo acusador. Uma mistura interessante, sem dúvida.
Kaure e Gustavo já tinham chegado. Estavam a aproximar-se da porta e havia um dos corações que batia a um ritmo estonteante.
- Está bem, tudo o que quiseres. – Não podia, nem queria, negar-lhe algo. Nunca mais. – Porque é que não escolhes um enquanto abro a porta?
- Não ouvi ninguém bater.
Inclinei a cabeça em direcção da porta. Ouviu-se uma suave batida repleta de receio. Dei-lhe um sorriso que estava cheio de presunção.
Fui abrir a porta e deparei-me com duas pessoas relativamente baixas. Gustavo olhava-me com um olhar amistoso, enquanto Kaure me olhava com um olhar cheio de medo e perguntas sem resposta. Reparei que os seus cheiros não eram apelativos, nem nada. Era bastante comuns, passavam despercebidos.
- Olá. Boa tarde. – disse-lhes com um pequeno sorriso – Pressuponho que sejam a Kaure e o Gustavo. Chamo-me Edward.
- Sim, sim. Bom tarde – respondeu-me Gustavo. Os seus pensamentos de Gustavo estavam apenas curiosos; perguntava-se porque sabia eu falar português e pouco mais. Já os de Kaure estavam amedrontados e mostravam-me várias lendas que ela ouvira.
- Obrigado por terem vindo. Entrem por favor.
Gustavo entrou à frente enquanto Kaure ficou à porta hesitante. Gustavo agarrou-a suavemente pelo braço e puxou-a para dentro. Fechei a porta suavemente e Kaure saltou.
- Então o senhor está a gostar das suas férias? – perguntou Gustavo enquanto nos aproximávamos da sala onde Bella estava.
- Oh, sim, imenso. O tempo é muito agradável e este Sol é fantástico. A temperatura da água é fenomenal. – parei ao pé da sala para apresentar Bella que se ajoelhava junto do móvel dos DVD’s. Levantou o olhar quando me ouviu chegar e sorriu brevemente. – É a minha mulher, Bella. Casámo-nos há muito pouco tempo. É a nossa Lua-de-Mel.
Bella corou levemente ao ouvir o seu nome e sorriu novamente. Gustavo sorriu-lhe e Kaure ficou especada a olhar para ela.
Lembrava-se de uma lenda da sua tribo, a tribo Ticuna, em particular que ouvira. A lenda do Libishomem. Imagens horrendas subiram-lhe à cabeça; mostravam um monstro que se alimentava de sangue. Um vampiro. Um vampiro que só se alimentava de sangue de mulheres bonitas.
“Bem, era um elogio a Bella.” Pensei. Aquela pequena mulher nunca poderia fazer nada contra mim porque nunca teria certezas do que pensava. Apenas dúvidas semeadas no seu espírito.
Depois de se lembrar desta lenda a sua cabeça começou a funcionar quase em mil direcções, mesmo estando aterrada de medo. Ela queria sair dali e levar Gustavo atrás. E… Bella. Queria levar Bella porque achava que ela corria perigo. Kaure estava mais preocupada com Bella do que consigo mesmo. Era uma pessoa nobre, sem dúvida.
Ela tinha a cabeça cheia de perguntas: “Quem é ele? O que ele é? Porque a tem aqui? Estou certa? Ou estou a ser demasiado supersticiosa? Mas eu sei o que sei.”
- Bem, parabéns! – congratulou Gustavo num tom amistoso.
- Obrigado. Bem, o quarto é ali. – apontei com a mão num gesto vago. – Houve um pequeno incidente com as almofadas… - Tentei lembrar lhe de alguma desculpa que pudesse dar. Fez-se luz do nada. Não era muito original, mas esperava que funcionasse. – É que, sabem, a Bella é uma pessoa muito criativa… Tem uma veia artística enorme. Decidiu que ia fazer uma máscara de gesso e decorá-la com penas… Então andou a rebentar com as almofadas para as conseguir. Não deu muito bom resultado…
Tínhamos chegado ao quarto quando me calei. Estava todo repleto de penas, elas cobriam-no quase todo. Kaure e Gustavo encaravam-no de boca aberta. O trabalho que se seguia era bastante…
Gustavo riu-se baixinho e perguntou, levantando o olhar na minha direcção:
- A máscara ficou gira, ao menos?
- Depois disto, Bella apercebeu-se que não tinha cola. – disse-lhe com um encolher de ombros e revirando os olhos.
- Pois. – riu-se novamente – Bem, nós vamos começar.
- Bem… Bom trabalho e… Boa sorte! Ah, verdade! As divisões que estão com a porta fechada não é preciso limparem-nas, está bem? – ri-me e saí do quarto.
Fui para a sala, pelo caminho fechei a porta do quarto azul, – não precisava que a mente de Kaure ficasse mais imaginativa… - e encontrei Bella de pé junto ao armário. Quando cheguei ao pé dela envolvi-a com os braços e pousei a minha cabeça na sua. Podia ficar assim para todo o sempre. Disso não tinha dúvidas.
- O que é que se passa com ela? – murmurou contra o meu peito.
- A Kaure pertence à tribo dos índios Ticuna. Foi habituada a ser mais supersticiosa ou, por outras palavras, mais consciente do que os que vivem no mundo moderno. Ela desconfia do que sou ou perto disso. Estes povos têm as suas lendas. Como a do Libishomem, um demónio que se alimenta de sangue e que caça apenas mulheres bonitas. – informei-a num tom informal.
- Ela estava aterrada. – comentou Bella depois de uma breve pausa.
- É verdade. Mas, acima de tudo, preocupada contigo.
- Comigo? – questionou surpreendida olhando para mim.
- Teme a razão que me leve a ter-te aqui comigo, completamente sozinha. – e sorri de maneira obscura. – Enfim… Porque não escolhes qualquer coisa para vermos? É algo humano e satisfatório para fazermos. – Qualquer coisa que acalmasse a mulher do quarto ao lado.
- Sim, tenho a certeza que o filme a irá convencer que és humano. – e riu-se alto. Passou os braços à volta do meu pescoço e elevou-se nas pontas dos seus pés. Debrucei-me para a beijar. Puxei-a para cima para não ter de me inclinar para beijá-la. – Filme, schfilme.
Senti Bella a entrelaçar as pernas em volta de mim e desci os meus lábios pelo seu pescoço até à sua clavícula. Senti as mãos de Bella a passarem-me pelo cabelo e um suspiro no meu ouvido.
Naquele preciso momento, com Bella ao meu colo e os meus lábios juntos do seu pescoço, Kaure entrou na sala, soltando uma exclamação de horror. Na sua cabeça passaram imagens de um Libishomem a sugar a vida de uma inocente jovem.
Em menos de um segundo, Bella abriu os olhos e saltou para o chão ficando a encará-lo enquanto corava.
- Meu Deus! Peço imensa desculpa. Não quis incomodar. –Kaure desmanchou-se em mil desculpas, engasgando-se pelo meio, cheia de medo.
- Não há problema nenhum. – sorri-lhe e ela fugiu para o quarto.
Bella suspirou duas vezes de seguida antes de levantar o olhar envergonhado e murmurar:
- Ela estava a pensar aquilo que eu penso que ela estava a pensar, certo?
Ri-me daquela frase rebuscada. Bella tinha ficado mesmo envergonhada. Olhei para ela por meio segundo tentando gravar aquele tom corada na minha memória para nunca mais me esquecer.
Baixei-me e agarrei-me num DVD qualquer sem me importar de ver o seu nome.
- Toma! – estiquei-lhe o DVD. – Põe este e fingimos que estamos a vê-lo.
Sentei-me no sofá e Bella deitou a cabeça no meu colo. Puxei-a para cima e encostei a sua cabeça ao meu ombro esquerdo. Passei os braços à sua volta e beijei-lhe o cabelo.
Do quarto chegavam-me sussurros alarmados de Kaure que contava a história a Gustavo que se ria. Já os pensamentos de Kaure estavam tudo menos alegres. Estavam apreensivos. Tinha quase a certeza que eu era um Libishomem, e quando chegasse à sua aldeia ia ter com o seu pai e fazer-lhe perguntas. Fantástico, da próxima vez viria toda alarmada e exigiria respostas, apostava.
- Assim estamos melhores. – sussurrei contra o seu cabelo.
- Muito melhores… - virou a cabeça na minha direcção e depositou-me um leve beijo nos lábios.
O filme começou e com ele alegres músicas e danças com voltas e mais voltas que deixavam qualquer humano tonto.
- Muito apropriado para uma Lua-de-Mel. – disse-lhe.
Bella deixou-se relaxar nos meus braços, acomodando-se no meio peito. Passado uns segundos virou novamente a cabeça na minha direcção e perguntou com o chocolate dos seus olhos a fervilhar:
- Já podemos regressar ao quarto branco?
Hesitei durante uns momentos antes de lhe responder:
- Não sei… Destrui irremediavelmente a cabeceira do outro quarto. Se limitarmos a destruição a uma área da casa, talvez a Esme nos volte a convidar numa outra ocasião qualquer. – Sabia que mesmo que destruísse os dois quartos e partisse 4 janelas, se pedisse a Esme, ela me deixaria vir cá. Mas eu não me ficaria a sentir bem.
Olhei para Bella e vi-lhe um sorriso enorme estampado na cara. Para além de presunção via-se uma centelha de esperança nele.
- Então as destruições vão continuar? – perguntou com o coração a acelerar imenso.
Ri-me do termo que Bella usou. “Destruições”. “Vamos destruir ali o quarto?” pensei ironicamente.
- Acho que é mais seguro se for premeditado do que aguardar um outro ataque teu. – falei-lhe depois de me rir.
- É apenas uma questão de tempo… - murmurou com o coração a acelerar ainda mais.
- Há algum problema com o teu coração? – perguntei-lhe com uma nota de ironia na voz.
- De modo algum. É tão saudável como o de um cavalo. – disse ligeiramente ofegando. Parou uns segundos para respirar. Virou-se para mim e olhou-me – Queres dar uma vista de olhos à zona das demolições, agora?
Na verdade apeteceu-me explodir à gargalhada com a frase de Bella. Tentei conter o riso. Respirei fundo uma vez e disse-lhe:
- Talvez seja mais prudente aguardar até ficarmos sozinhos. Tu podes não te aperceber de partir a mobília, mas talvez isso os assustasse.
Tinha a certeza que os assustaria. Sons de madeira a ser partida acompanhados de gemidos, suspiros e gritos abafados. Poderia ser assustador, sim.
- Está bem. Que chatice! – barafustou, aninhando-se mais a mim e beijando-me o ombro.
Bella olhou para a televisão durante uns minutos e os seus olhos começaram-se a fechar. Como era possível? Dormira durante 12 horas!
Kaure e Gustavo andavam pela casa a arrumar tudo aquilo que estava fora do lugar. Não foram a nenhuma das divisões de porta fechada, tal como lhes pedira.
Tentei ignorá-los enquanto passava suavemente as minhas mãos pelo cabelo de Bella ou pelo seu ombro, descendo até à sua cintura.
Se me perguntassem qual é a história do filme eu não saberia. Olhara para o ecrã somente uma vez e fora logo no início.
Ouvi passos a aproximarem-se da sala e de seguida a voz de Gustavo a falar:
- Acabámos mesmo agora. Voltamos daqui a uma semana. – endireitei-me no sofá, deixando Bella aninhada no meu peito. – Até lá.
Olhei-o e acenei-lhe simplesmente com a cabeça.
E rapidamente saíram pela porta. Quando ouvi o barco a funcionar, olhei para Bella e disse-lhe:
- Acabaram. – sorri.
- Então, significa que estamos sozinhos? – disse levantando-se do sofá.
- Que tal almoçarmos primeiro? – sugeri. O seu estômago devia estar quase a reclamar, de certeza.
Bella olhou-me e mordeu o lábio. Mandou um olhar para a cozinha e outro na direcção do quarto. Estava dividida, mas de certeza que estava com fome.
Tínhamos tempo. Peguei na sua mão e levei-a para a cozinha. Sentei-a na cadeira e olhei-a do outro lado na mesa.
- Peixe ou carne?
- Carne! – exclamou.
Fui ao frigorífico e tirei uma palete de bifes que ali estava. Temperei-os e grelhei-os. Aqueci a massa que havia e passado alguns minutos pus o prato à frente de Bella.
- Obrigada. – inclinou-se sobre a mesa e deu-me um beijo.
Contornei a mesa e sentei-me ao seu lado. Fui-lhe mexendo no cabelo e fazendo festas nas suas bochechas ou no seu ombro. Por vezes, Bella olhava-me e sorria-me sem nada dizer. Não era preciso; por vezes os silêncios falam por si.
- Isto está a passar dos limites. – observou quando acabou o prato. Tinha comido dois bifes. Ri-me.
- Queres ir nadar com os golfinhos, esta tarde, e queimar algumas calorias? – propus com um sorriso.
- Talvez mais tarde. Tenho uma ideia que pode dar melhores resultados. – disse com um sorriso sedutor.
- E qual é? – fiz-me de despercebido.
- Bom, há uma enorme quantidade de cabeceira intacta…
Não a deixei acabar de falar. Num segundo, Bella estava ao meu colo e os meus lábios colados aos seus explorando-se mutuamente.
Em menos de dois segundos estávamos no quarto azul; as roupas ficaram pelo caminho. Deitei-a na cama e em segundos começamos aquela dança que tanto amávamos. Era acompanhada de uma sinfonia de gemidos, ofegares e murmurares de nomes. Passaram-se horas sem darmos conta.
(…)
- Acho que nunca me canso disto. – murmurou Bella deitada em cima de mim.
- Agora estás cansada. – disse-lhe com um sorriso enquanto passava a mão pelas suas costas.
- Percebeste bem o que quis dizer. – elevou-se sobre os cotovelos e beijou-me.
- Percebi muito bem. Eu também nunca me canso.
Bella sorriu e acomodou-se no meu pescoço. Segundos depois murmurou contra ele:
- Ainda bem porque temos uma eternidade para isso.